As emissões de gases causadores de efeito de estufa diretamente relacionados com a atividade humana são, até ao momento, a principal causa do aumento da temperatura média do planeta, em comparação com o período pré-industrial.
De entre estes gases o CO2 (Dióxido de Carbono) e o CH4 (Metano) são os que, a nível global, representam maior quantidade de emissões para a atmosfera, representando respetivamente 81% e 10% de todas as emissões.
A introdução do motor de combustão interna, na segunda metade do século XIX, foi a principal força motriz para a inovação tecnológica que permitiu aos países industrializados alcançarem progresso e crescimento económico mudando assim o padrão de consumo energético a nível mundial. Com esta nova tecnologia foi possível aumentar a capacidade produtiva dos países e sustentar o crescimento populacional que se verificou como consequência desse mesmo aumento, fazendo crescer o consumo médio individual de cerca de 450$ (USD) em 1960 para 11430$ (USD) em 2019 (PIB per capita) e melhorando assim as condições de vida de milhões de pessoas.
Neste artigo toma-se como princípio fundamental o facto de que o crescimento económico só pode ser sustentado por um acompanhamento do consumo médio energético per capita. Como tal, num mundo onde se estima que a população aumente em cerca de 2 mil milhões de habitantes até 2050 o tema da transição energética de fontes carbónicas para fontes mais limpas toma especial importância e deve ter toda a nossa atenção, de modo a garantirmos um futuro sustentável para as gerações futuras.
Onde nos encontramos?
A fatia de energia de origem fóssil (Petróleo, Carvão e Gás) consumida mundialmente é de cerca de 80% mostrando claramente sinais de uma economia altamente centrada e dependente do carbono (Figura 1). As emissões de CO2 derivadas da queima de combustíveis fosseis representam portanto a maior parte das emissões de gases de efeito de estufa a nível mundial e apesar dos compromissos tomados pelos maiores poluidores a nível mundial, através os diversos acordos realizados à data, como o Acordo de Paris em 2016, não tem havido sinais claros de abrandamento representando algum alarmismo em relação às metas estabelecidas de aquecimento, situadas até ao máximo de 2ºC, em relação ao ano de 1900.
Figura 1 – Energia de origem fóssil consumida (%) (Fonte: World Bank Data)
O aumento da temperatura média global deve-se, em grande parte, à emissão de CO2, produto resultante da maioria dos processos transformadores nos diversos setores e indústrias da nossa economia, pela utilização de combustíveis fosseis nos mesmos, revelando uma forte dependência destes recursos na nossa economia e no seu crescimento até aos dias de hoje. Os setores com maior pegada carbónica são o setor de produção de energia elétrica (25%), pelas centrais de carvão e fuel, seguido da indústria metalúrgica, química e mineira (21%) e da indústria dos transportes (14%), onde 95% dos transportes são, ainda hoje, à base de combustíveis fosseis.
Figura 2- Variação da Temperatura Média Global (Fonte: Bloomberg Green)
Qual o caminho a percorrer?
O economista Spencer Dale, chefe do departamento de economia da British Pretoleum (BP), no seu relatório “Energy Outlook for 2020” considerou o ano em que nos encontramos num ano fulcral de transição energética para a descarbonização da economia mundial. De acordo com o seu estudo, que considerou toda a conjuntura macroeconómica atual, são ilustrados três cenários possíveis: Transição Rápida, Net-zero, e a perspetiva de Business-as-usual.
Em todos estes cenários toma-se como ponto de referência limite o ano de 2050, onde se estima que continuando com uma economia à base de combustíveis fosseis os efeitos causados por esse caminho insustentável sejam dados como irreversíveis e a temperatura média do planeta exceda os 2ºC em 2100 causando assim desequilíbrios no sistema ecológico e ambiental do planeta, resultando em danos sociais e económicos sem precedentes.
Figura 3 – Cenários para a evolução das emissões de CO2 – 2050
- Transição Rápida (A laranja): Este cenário de transição energética será sustentado por políticas de aumento do preço do carbono a nível mundial pelas organizações reguladoras e pelos Estados em que taxas sobre as emissões de carbono sejam aplicadas a setores mais específicos da economia, assim como a redução significativa das emissões de CO2 provocadas pelo carvão e fuel nessas indústrias, reduzindo as emissões em cerca de 70% até 2050.
- Net-zero (A azul): A perspetiva de descarbonização completa (ou quase) da economia é a mais utópica e não se espera que a maior parte dos países do mundo, até de entre os mais desenvolvidos e industrializados consigam alcançar. É uma meta que a União Europeia está a colocar muitos esforços em atingir e espera-se que os países da EU consigam de facto, na sua média, atingir esta meta pela incorporação da mesma estratégia da Transição Rápida mas com um reforço de politicas de carácter comportamental das famílias e das organizações. Esta estratégia opta por adotar mais economias circulares e partilhadas no sistema económico, assim a redução do consumo geral de carne e um investimento mais acentuado nas energias renováveis e suas redes de distribuição, esperando reduzir 95% das emissões, colocando-se na zona dos 1.5ºC de aquecimento.
- Business-as-usual (A verde): Com um pico das emissões no ano de 2020 esta visão assume que os governos e a economia a nível global não tenham capacidade em manter o crescimento económico necessário para suportar as medidas ditas necessárias para a desaceleração significativa das emissões de carbono e que, apesar de uma descida ligeira das mesmas, não se venham a verificar diminuições na preferência dos hidrocarbonetos e que o planeta aqueça em mais de 2ºC em 2100.
Como podemos observar neste estudo o caminho a tomar por parte das organizações governamentais consiste em aumentar progressivamente o preço do carbono emitido, seguindo as estratégias de Transição Rápida e Net-Zero, fazendo subir o preço médio de cerca de 50 US$, em 2020, para 250 US$ de CO2\ton, em 2050, nos países desenvolvidos, e de iniciar este processo nos países em desenvolvimento para atingir a meta de 170US$ \ ton de CO2 por volta do mesmo ano.
Apenas com esta estratégia é possível orquestrar uma mudança significativa e gradual nos padrões de consumo para deslocar a reta de procura de energia de origem fóssil para cima (maior preço, menor quantidade), ao mesmo tempo que os governos canalizam os recursos provenientes dos impostos gerados em investimento na produção de energia limpa e no bem-estar das suas populações, para que a transição energética seja feita da forma mais suave possível, sem gerar desigualdades, de modo a que sejam cumpridas as metas propostas para que as gerações futuras não tenham o seu futuro comprometido e possam viver com mais conforto e prosperidade.
O que posso fazer?
Ainda que algum ceticismo seja compreensível por parte de alguns líderes no mundo empresarial, é necessário olhar para os dados e para os estudos já existentes sobre alterações climáticas e perceber qual o real impacto que esta mudança no padrão energético e de consumo possa vir a ter sobre os atuais modelos de negócio das empresas e começar a delinear estratégias para conter os possíveis prejuízos desta mudança.
Decisões devem ser tomadas hoje ao nível produtivo, financeiro, marketing e da própria cultura organizacional que tenham em consideração os impactos que as alterações do clima vão ter sobre a forma como trabalhamos, comunicamos e como geramos lucros e não ponham, em consequência disso, em causa a sustentabilidade das nossas organizações.
É necessário tomar medidas que permitam “dar a volta” a este problema ao tornar as nossas organizações mais “verdes”, que levem à poupança de recursos no que toca à quantidade de carbono emitido em toda a cadeia de valor, e também torná-las menos vulneráveis face ás imprevisibilidades através de novos investimentos e medidas que se consigam acompanhar as mudanças no mercado que vai evoluindo neste sentido num ritmo acelerado.
Estratégias para incorporar a taxa carbónica nas organizações
- Medir a pegada carbónica da organização
Em primeiro lugar é necessário perceber quantitativamente e geograficamente quais as fontes de emissão direta e indireta de CO2 que a organização possui e mapear qual a quantidade de emissões inerente a cada atividade da cadeia de valor e perceber onde é possível poupar e ter uma visão clara do impacto ambiental que a empresa tem. (Sugestão: Esta análise pode ser feita de forma gratuita em https://www.carbonfootprint.com/ )
- Aumentar internamente o preço das suas emissões
Em 2017, cerca de 1500 empresas nos EUA já estariam a planear colocar um preço às suas próprias emissões de carbono, acima do preço de mercado. Desta forma é-lhes possível valorizar os seus investimentos e gerir o risco de melhor forma, uma vez que não estão sujeitos às forças do mercado podendo assim forjar a sua própria estratégia face às alterações climáticas, de forma gradual e suave.
- Comunicar resultados e envolver stakeholders
A integração de preços sobre as emissões de carbono pode não ter o impacto previsto na redução das mesmas nas atividades da empresa. No entanto, a comunicação constante com os stakeholders (investidores, clientes e fornecedores) por parte da liderança é muito importante para que novas ideias e estratégias possam surgir e dessa forma a integração das mesmas possam ser mais eficazes, assim como perceber o impacto que o investimento em novas tecnologias possa ter no futuro da empresa.
É um facto que as alterações climáticas são um tema importante a considerar no futuro de cada individuo e nas organizações. É importante por isso, que tenhamos visão de futuro, e consideremos as evidências científicas, que têm sido cada vez mais recorrentes e concretas, de uma forma séria, não entrando em histerismo, tomando medidas preventivas e estratégicas necessárias que permitam às nossas organizações cobrir os possíveis prejuízos futuros sejam e não atinjam de uma forma tão abrupta que possa pôr em causa a maneira como trabalhamos e servimos a sociedade no dia-a-dia.